Pesquisa na UFSC promove melhoramento genético de videiras trazidas da Itália e Alemanha
Pesquisadores e acadêmicos do Campus Curitibanos, que compõem o Núcleo de Estudos da Uva e do Vinho (Neuvin) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) , em colaboração com Centro de Ciências Agrárias – CCA), Epagri, vinícolas parceiras e os institutos de pesquisa Fondazione Edmund Mach (Itália) e Julius Kühn-Institut (JKI, Alemanha), têm realizado pesquisas deste 2012, com o intuito de desenvolver videiras de alta qualidade para vinhos que sejam resistentes às principais doenças que atacam essa cultura no Brasil.
Mudas de videiras vindas da Fondazione Edmund Mach e do JKI são cultivadas no Centro da UFSC em Curitibanos. Elas foram trazidas pelos contatos que professores da UFSC fizeram durante doutorados realizados na Itália e Alemanha. As espécies são conhecidas como Piwi (lê-se pívi), abreviação de pilzwiderstandsfähige rebsorten, que pode ser traduzida como “variedade resistente a fungos”.
Um dos responsáveis é o professor Leocir Welter, do campus de Curitibanos, que atua no Programa de Pós-Graduação em Agroecossistemas Agrícolas e Naturais (PPGEAN). Ele pesquisa o melhoramento genético das plantas e explica que os materiais trazidos para o Brasil foram aprimorados por décadas para o cultivo na Europa – produzem vinhos de alta qualidade e são resistentes a diversas doenças, como o míldio (Plasmopara viticola). Agora, a ideia é “pegar estes materiais, que têm os genes da resistência, e realizar cruzamentos para doenças que não têm lá e aqui no Brasil são grande problema”, aponta Leocir.
A partir dos cruzamentos com variedades americanas, serão selecionadas as sementes das plantas mais resistentes. Elas serão levadas a campo e os pesquisadores irão analisar as variedades menos suscetíveis às doenças que ocorrem nas videiras brasileiras. A partir das uvas, será verificada a qualidade do vinho resultante: “Têm de ser boas agronomicamente e boas na taça”, diz Vinicius Caliari, enólogo da Epagri.
Menos agrotóxico
Os resultados previstos são videiras resistentes a doenças como o míldio, que atrapalham a produção de uvas para vinhos finos. Desta maneira, o uso de agrotóxicos é exponencialmente reduzido – apenas 30% do utilizado nos cultivares tradicionais. O coordenador do projeto pela Epagri, André Souza, reforça que a pesquisa é um trabalho de ponta na América Latina ao produzir vinho com mais qualidade com pouco uso de agrotóxicos. “Todo mundo ganha: o produtor tem menos despesa e risco de intoxicação e o consumidor tem menos interferência química no vinho”. André ressalta que o financiamento veio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (Fapesc) e também da indústria vinícola (através do Sindivinho), “que escolheu o projeto para investir e avançar em culturas com menos agrotóxicos. As variedades viníferas mais conhecidas precisam de mais agrotóxicos e, nem por isso, a safra é garantida”. Para ser realizado, o trabalho também conta com bolsas para estudantes da Capes e CNPq.
Diferentes locais
Um dos méritos do trabalho, diz Leocir, é a produção em cinco diferentes locais, o que possibilita múltiplas análises. “As mesmas variedades são cultivadas em São Joaquim, Videira, Curitibanos, Urussanga e Água Doce, todas com solo, clima e altitude diferentes”. Os cultivares vão dos 50 metros do nível do mar de Urussanga aos 1.360 de São Joaquim, e o estudo avalia como os tipos “se adaptam a cada clima. Umas se adaptam bem a todas as regiões. O clima mais quente de Urussanga, por exemplo, é o mais diferente em relação aos outros locais. Queremos tentar extrair o potencial de cada região”.
Degustação
O Neuvin (criado no CCA, em Florianópolis, mas com uma ramificação em Curitibanos) promoveu uma degustação de vinhos produzidos com as uvas cultivadas na UFSC no dia 22 de novembro. Foi a segunda do gênero, focada em produtores e empresários, e serviu para apresentar oito produtos (dois espumantes, quatro vinhos brancos e dois tintos), desenvolvidos em parceria com a Epagri. Caliari explica que a vinificação foi estandardizada para avaliar os potenciais e diferenciais de cada uva.
O público da degustação participou de uma pesquisa sobre os vinhos, avaliando atributos como cor, aroma, gosto, impressão global e até quanto estaria disposto a pagar por uma garrafa de 750 ml. Os especialistas do Neuvin, entre eles o professor aposentado Aparecido Lima, também guiavam os presentes em como degustar (o quê buscar em cada sensação) e analisavam cada produto final. Os dados de cada variedade, do mosto (mistura destinada à fermentação) ao vinho, incluindo a produtividade por hectare também estavam disponíveis ao público.
A degustação testa apenas as mudas que vieram de fora. Para o próximo ano, as mudas melhoradas no Brasil serão vinificadas. No total, 29 variedades são cultivadas na UFSC.
Produção e formação de recursos humanos
Como esses cultivares irão evitar as doenças que mais preocupam a indústria vinícola, o projeto irá possibilitar uma alternativa para quem produz ou pretende produzir vinhos finos. “A instituição pública forma pessoas e disponibilizaria mudas para os produtores já melhoradas”, lembra Leocir. A previsão para 2020 é que as primeiras mudas melhoradas geneticamente pela UFSC sejam cultivadas fora da instituição, com indicação do local de melhor rendimento.
O manejo, colheita, avaliação e melhoramento genético das videiras são feitos por estudantes da UFSC. “Todos os dados de produção apresentados na degustação vieram de estudantes do PPGEAN” da UFSC Curitibanos, diz Leocir. Além dos estudantes de Curitibanos, estão envolvidos pós-graduandos do Programa de Pós-Graduação em Recursos Genéticos Vegetais (PPGRGV), do CCA de Florianópolis. “O estudo é altamente internacionalizado, com vinculação aos institutos da Itália e Alemanha. Nossos alunos têm oportunidade de fazer parte do doutorado fora”. Ele explica que existem várias áreas de atuação, desde o melhoramento genético, até microvinificação (produção de vinho em pequenas quantidades), passando pela fisiologia das plantas.
Wilson Taybar Assumpção, 48 anos, começou a estudar Agronomia em Florianópolis e, quando se transferiu para Curitibanos, começou a trabalhar nas pesquisas com vinho. “Fiz de tudo. Comecei ajudando a mudar as plantas de lugar e, conversando com Leocir, achei a ideia do projeto mais interessante que culturas como milho e soja”. Ele diz que visualizou um trabalho de consultoria a pequenos produtores, com uso menos intenso de agrotóxico, que pode ou não ser realizado junto ao mestrado do PPGEAN.
Créditos: AGECOM/UFSC (Caetano Machado/Jornalista da Agecom/UFSC).